Bem Vindo

Bem vindo a este blogue sobre a interacção das motos com a minha vida.

Após anos de participação em Sites e Foruns de Motos e Motociclistas, fiquei farto.

Decidi assim criar este blogue, que é como quem fala consigo mesmo mas deixa que outros o oiçam.


domingo, 13 de janeiro de 2008

Rumo ao Cabo Bojador - Parte II

Dia 3


A etapa de hoje é mais curta. Daqui para baixo começa o deserto e com ele vêm as pistas de terra e areia e vão ser 400 quilómetros bem duros até Tan-Tan Plage. De novo o ritual de carregar a bagagem nas motos e preparar tudo para mais um dia. Está de novo um dia lindo de sol e calor.





Dois casais de franceses já uma boa idade, também por ali andam a passear nas suas fabulosas Hondas Gold Wing, novinhas em folha.




Partimos ainda não eram 9.00 horas pelas amplas, limpas e floridas avenidas de Agadir, ponteadas de enormes rotundas e ladeadas de meio escondidos palácios em fabulosos jardins. Também aqui só os semáforos, quando os há, ditam as regras do trânsito. A prioridade é de quem chega primeiro mas por incrível que pareça não se vêm acidentes e tudo parece fluir com normalidade. Não há aceleras e a polícia é omnipresente.


À saída da Agadir, uma estrada de terra leva-nos em direcção ao mar e á pista da costa que em 127 km de areia e terra nos levará até Tiznit.


Difícil foi levar as motos por uma ribanceira com uma inclinação considerável, da estrada até á pista lá em baixo.


Fabulosa pista de areia que nos leva pelas altas falésias junto ao Atlântico. O silêncio e a solidão total são quebrados pelos gritos da gaivotas que nos sobrevoam.





É preciso muita prática, coragem e sangue frio para conduzir estas motos enormes e carregadas por pisos de areia solta. Aqui elas ganham vida própria e não vale a pena segurar o volante com muita força. É deixá-las ir e dar gás no acelerador quando elas querem ir para onde não devem.


Mesmo assim de vez em quando pregam-nos uma partida e damos por nós estatelados na areia.



Felizmente nada de grave acontece nem a nós nem à mecânica das motos e a viagem prossegue com boa disposição. O imenso prazer e a excitação que esta aventura nos provoca mistura-se com os rios de suor que nos escorrem pelo corpo. Estão bem mais de 30º centígrados e as areias vão mudando de cor, amareladas aqui, avermelhadas mais além.


A minha GS está-se a portar à altura. Os fantásticos pneus Continental TKC 80 de tacos, agora com com a pressão reduzida ao mínimo para não se soltarem das jantes, fazem a diferença. Toda a diferença entre andar sempre a cair....ou nunca cair. A parte mais pesada da bagagem passou para o saco do depósito aliviando assim a traseira da moto e evitando que se esteja constantemente a enterrar.




Subitamente a paisagem muda, e estamos no final desta pista de areia que tanto gozo e cansaço nos deu.





A adrenalina ainda corre com força, e há agora que acalmar, despir os fatos para secar o suor e arrefecer um pouco, fumar uns cigarros, beber água, muita água, voltar a encher os pneus com o compressor portátil e partir para os 70 km que ainda faltam, mas agora em terra batida.



A fantástica pista de terra que se seguiu por mais 70 km, efectuada a uma boa velocidade, curvas com o pé no chão junto à roda da frente, e no meio de uma poeirada imensa, a que nós próprios fazíamos e a levantada por alguns camions e carros com que nos íamos cruzando, foi outro momento de puro gozo. Inesquecível.

Finalmente e de novo o alcatrão. Há que parar para abastecer as motos dos companheiros, a minha abastece uma vez por cada três deles.

Onde quer que cheguemos é uma festa para os miúdos que parecem aparecer do nada e vêm com um sorriso envergonhado ver as motos e os "infiéis".

Como que por magia, dos meus sacos da moto começam a sair bonés da TMN e canetas, que fazem os sorrisos abrir-se em risos de pura satisfação e alegria. é tão fácil contentar com pouco, alguém que nada tem.



Abastecidos, nós e as motos, é hora de continuar caminho. Para o interior direitos a Tiznit por outra fantástica estrada de terra batida para apanhar a N1 para sul, para Tan Tan.


Vamos passando no caminho por dezenas de Oueds, dos quais o mais importante é o Oued Draa.


Finalmente aí está Tiznit. São horas de retemperar as forças com um bom almoço.





O troço de rota percorrida entre Agadir e Tiznit.



Almoço terminado são horas de continuar caminho para tentar chegar ainda de dia e encontrar alojamento decente. Daqui para baixo, da grandiosidade das paisagens da aridez imensa, as imagens dizem mais que mil palavras.







E eis as portas de Tan Tan. Duas magnificas estátuas de pedra representando dois camelos e ladeando a estrada, marcam a entrada da cidade. Imponente.



Vinte e três quilómetros depois eis-nos chegados a Tan Tan Plage ou El Ouatia. Grande praia. É bom estar de novo à beira mar depois de tanto deserto, areia, terra e pedra.





O cheiro a maresia invade-nos os sentidos e é como um calmante que nos relaxa da tensão do dia. Estamos entre gente da pesca, que vive da pesca e da indústria conserveira, como o comprova este magnifico e insólito monumento à Sardinha.





Tinha marcado ainda em casa no GPS as coordenadas do Restaurante Equinoxe. Marcou a chegada com 3 bips a cerca de 15 metros do verdadeiro destino.


Havia agora que escolher onde dormir e comer. Das opções disponíveis e que investigámos cuidadosamente, uma habitação para todos ao lado do Equinoxe ou dois quartos duplos no Vila Océan, optámos pela segunda. Pequeno, cuidado e acolhedor, situado mesmo em cima do paredão da praia e propriedade de um casal de simpáticos franceses, Muriel et Norbert, que também organizam passeios de jeep pelo deserto do Sul de Marrocos e têm um centro de pesca desportiva http://www.villaocean.8m.com/page2.html.


Se as acomodações não eram de 5 estrelas, o jantar compensou largamente tudo o resto. Comida caseira confeccionada no momento, uma mesa bem posta, muita cerveja como se nota na cara do Rogério,



e no final uma cigarrada!!!!!!!!



Aqui tudo tem solução, basta que haja boa vontade. Como não queríamos deixar as motos na rua, logo se arranjou uma maneira de conseguirmos guardá-las no quintal do restaurante ao lado da esplanada. Parque privativo, que luxo.



Um por do sol magnifico fez as despedidas do dia nesta bela praia,



e finalmente rumámos aos quartos onde nos aguardava companhia que não tínhamos sequer pedido. Não gostámos do estilo, e teve azar....coitada.



Estava acabado mais um dia e mais uma etapa da nossa maratona. Estávamos a 2.000 km de casa.


Fim da Segunda Parte

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